Vestibular de Medicina – Funorte
19 de junho de 2016
Questões de Literatura Comentada
Livro “Feliz ano velho”, de Marcelo Rubens Paiva
Questão 16 – Analise a alternativa INCORRETA, quanto aos elementos que compõem a narrativa de Feliz ano velho.
a) Apesar de ser uma escrita de si, narrada em primeira pessoa, a obra debate acerca da sociedade brasileira.
b) Concomitantemente, a narrativa flui sustentada em dois eixos que a compõem: vida particular e história nacional.
c) A narrativa se inicia com o relato do acidente e ganha sequência com a história de luta do autor para recuperar sua mobilidade, experiência que é vivenciada paralelamente a outras tragédias como o desaparecimento do pai.
d) De cunho memorialístico, a obra apresenta a melancolia como tom marcante.
Comentário:
a) CORRETA: Vários temas contemporâneos ao autor e importantes para a sociedade brasileira são comentados, como a Ditadura Militar.
b) CORRETA: Complementar a alternativa “A”, o universo individual de Paiva se mescla com a história do país.
c) INCORRETA: Primeiramente, o autor não recupera a sua mobilidade; segundo a experiência traumática do acidente não é vivenciada paralelamente ao desaparecimento do pai, que ocorreu quando o autor tinha onze anos; o acidente foi aos vinte anos.
d) CORRETA: A melancolia do livro consiste nas constantes referências ao passado prazeroso que não volta mais em oposição ao seu estado físico desfavorável. Apesar de as recordações trazerem o estado de uma vida feliz, o presente do autor é marcado por certo desencanto. Nesse sentido, a melancolia se torna o tom marcante; o que não descarta outros “tons” como indignação e revolta em alguns momentos.
Questão 17 – Atente para as afirmativas sobre a obra Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva, e assinale a alternativa CORRETA.
a) Apesar do caráter ficcional, a obra encerra também um cunho documental de registro de um momento histórico capaz de nos por a par de parte da vivência cultural e política do Brasil nos anos 1970.
b) No fim da narrativa, ao retornar à página inicial, adotando, agora, o uso da terceira pessoa, o autor atesta que alcançou a redenção completa da culpa que o oprimia.
c) O primeiro passeio de carro após a chegada ao espaço doméstico inspira o leitor a fazer apologias à avenida Paulista dos dias em que ele podia, sem o embargo da imobilidade, “trocar uns passos na calçada”, “dançar com aqueles postes”.
d) Ana, Bianca, Marcinha, Marina fazem parte do desfile de garotas com quem o narrador, na adolescência, teve experiências sexuais e que o assistiram no difícil processo de recuperação após o acidente.
Comentário:
a) CORRETA: Apesar de uma escrita subjetiva, literária, portanto ficcional; o livro é um relato autobiográfico que mescla acontecimentos pessoais com eventos culturais e políticos do Brasil; principalmente na década de 1970, período em que Paiva vive sua juventude.
b) INCORRETA: O foco narrativo em primeira pessoa perpassa todo o livro, sem alterações.
c) INCORRETA: Na verdade, é o autor que faz comentários sobre a Avenida Paulista; não havendo essa inspiração ao leitor para fazer apologias.
d) INCORRETA: Bianca é uma garota que Paiva conheceu depois do acidente, portanto não foi uma de suas experiências sexuais da adolescência.
Questão 18 – O contexto é uma delação existente entre texto e a situação em que ele ocorre dentro do texto, envolvendo lugar, tempo, cultura, características históricas, entre outros elementos.
O livro Feliz ano velho, escrito por Marcelo Rubens Paiva, nos traz, além das suas memórias, fatos históricos importantes que nos leva a entender melhor este “contexto” em que a narrativa se desenvolve.
Marque a alternativa que apresenta características históricas importantes em Feliz ano velho.
a) O período das Diretas Já e o surgimento de novos partidos no Brasil.
b) O surgimento de novos partidos no país e o fracasso da economia brasileira.
c) O fracasso da economia brasileira e o período da ditadura militar.
d) O período da ditadura militar no Brasil e o surgimento de novos partidos.
Comentário:
Durante a permanência dos militares no poder, a economia brasileira cresceu num ritmo acelerado, quase três vezes maior do que o alcançado nos primeiros 21 anos após a volta da democracia. Essa realidade destoava tanto para os padrões da época que os analistas chamavam de “milagre brasileiro”. Por isso, as alternativas “B” e “C” estão incorretas. Já a alternativa “A” traz as “Diretas Já”, que foi um movimento civil de reinvindicação por eleições diretas para presidente entre 1983 e 1984. O livro foi publicado em 1982. Logo a única correta é a letra “D” que compreende o período da ditadura militar e o surgimento de novos partidos, como o PT (Partido dos Trabalhadores) em 1980, ao qual Paiva vai se filiar.
Questão 19 – Assinale a alternativa INCORRETA quanto aos recursos utilizados em Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva, e quanto à exemplificação com trechos extraídos da obra.
a) Metalinguagem: “A morte do meu pai eu vou contar mais tarde. A mais chocante delas foi a do pai do Ricardo. Ele estava com câncer no cérebro, mas me dizima que estava apenas doente”.
b) Fluxo de consciência: “Passei anos de minha vida sem saber se tinha ainda um pai ou não. Lembro-me até de que, um dia, já morando em Santos, pensei ter ouvido minha irmã gritar ‘papai’. Saí correndo feito um louco, rodei pela casa toda, fui pra rua, procurei por todos os cantos, mas não o achei. Ainda com uma tremedeira no corpo fui perguntar pra minha irmã. Era engano meu. Ninguém tinha gritado”.
c) Intertextualidade: “No final do livro, Gabeira é trocado por embaixador e posto num avião fora do país, na condição de exilado”.
d) Linguagem despojada, que sacrifica o requinte formal e a norma culta, beirando o escatológico: “Tiraram minha roupa. Peladão, (a enfermeira) molhou um paninho com água quente misturada com sabonete e, primeiro, passou no meu rosto (...) Vamos mulher, sem acanhamento, afinal eu sou um pobre doente (...)Virado, ela passou água nas costas. Imediatamente, o quarto ficou com um odor inconfundível. Seja rico, seja pobre, preto ou branco, terráqueo ou marciano, cocô em qualquer lugar do universo tem o mesmo cheiro”.
Comentário:
a) CORRETA: Neste fragmento há metalinguagem, pois o escritor diz ao leitor como será a escolha dos temas de sua escrita, como fica evidente na construção “eu vou contar mais tarde”.
b) INCORRETA: O fluxo de consciência se dá através dum narrador em primeira pessoa, que expõe seus pensamentos e vivências numa sequência contínua e abrupta, alternando seu foco de acordo com a corrente mental. No livro, há fluxo de consciência, por exemplo, neste trecho:
“— E aí, garotão? — era a Bianca me acordando.
— E aí, princesa? Pensei que tinha me dado o cano. Não deu o cano, não.
Fechei a porta e vi seu corpo todo nu, deitado de costas. Ela era linda, mas linda mesmo. Já havia transado com ela uma vez, em Campinas, e já há duas semanas, digamos, que estávamos namorando, transando, tendo um caso, sei lá.”
Nesse fragmento, o narrador interrompe o relato com a Bianca para falar de uma experiência passada. Num primeiro momento, o leitor se confunde, acreditando que continua falando de Bianca, mas na verdade ele já está relatando uma experiência que teve com Ana.
No fragmento da questão, não há fluxo de consciência, mas apenas uma recordação, somente a ação passada é descrita sem interrupção.
c) CORRETA: Esse fragmento faz alusão ao livro O que é isso, companheiro?, de Fernando Gabeira.
d) CORRETA: Palavras como “peladão” e “cocô” são exemplos dessa linguagem despojada.
Questão 20 – Quanto à interpretação da obra Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva, assinale a alternativa INCORRETA.
a) Na busca de construir uma narrativa em que se sustente sua verdade, o autor faz de Feliz ano velho uma obra que diz respeito mais à ênfase à realidade dos fatos do que à realidade interior do personagem.
b) A obra extrapola a escrita íntima, alcançando reflexões acerca da história do país, constituindo-se também como uma escrita de memória coletiva.
c) A escrita de Feliz ano velho pode ser considerada catarse de dores e tem como elemento desencadeador uma experiência marcante na vida do autor.
d) A narrativa se configura como um mosaico de acontecimentos, além de envolver em um amálgama humor, ironia, texto combativo, desabafo, lamento.
Comentário:
a) INCORRETA: Ainda que haja referências ao universo externo, a ênfase da narrativa está no sujeito, ou seja, na realidade interior de Paiva. São as lembranças do narrador que dá o tom mais ameno ao seu relato.
b) CORRETA: A voz de Paiva é, metaforicamente, a voz de um povo que clamava por liberdade.
c) CORRETA: Numa mescla de prazer e dor, a escrita de Paiva é uma catarse para as ocorrências da vida.
d) CORRETA: Selecionando eventos, memórias e reflexões, mediante uma linguagem informal, irônica, despudorada, Paiva constrói seu texto, de fato, como um mosaico.
Gabarite as questões de Literatura do Vestibular da Funorte com a leitura do estudo: "A palavra-vida de um corpo quedo". Neste estudo, o leitor encontrará uma breve biografia do autor, a contextualização histórica e literária, a síntese do enredo, as principais características estruturais da obra e reflexões temáticas, destacando a memória, a ditadura e a palavra, além de questões propostas com gabarito comentado.
Adquira já o seu exemplar por apenas R$20,00. Clique Aqui!
Foi divulgada nesta quarta-feira (27/4), a relação da obras literárias indicadas para o Programa de Avaliação Seriada para o Acesso ao Ensino Superior (PAES/2016), da Universidade Estadual de Montes Claros. A lista contempla as três etapas do processo e, mais uma vez, contempla a produção regional dos escritores Karla Celene Campos, Wagner Rocha e Cyro dos Anjos (acadêmico da ABL), além do cineasta Carlos Alberto Prates Correia.
Conforme a Comissão Técnica de Concursos da Unimontes (Cotec), o edital do processo seletivo será divulgado em maio e as inscrições serão efetuadas em junho. A data provável para a realização das provas é 20 de novembro, pela manhã, tarde e noite.
PRIMEIRA ETAPA
As obras indicadas para a primeira etapa do PAES/2016 são “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto; “O Santo e a Porca”, de Ariano Suassuna; “O Pagador de Promessas” - O Filme, de Dias Gomes; e “O Burgo”, de Gregório de Matos.
De acordo com a equipe de professores da Cotec, os livros e o filme indicados para esta etapa “privilegiam a religiosidade do povo brasileiro, rica em sincretismos, contrates e expressões populares. “Retomando o barroco brasileiro em que essa religiosidade é permeada por tensões e pelo compromisso de colonização português, pretende-se comparar, discutir e repensar a religiosidade no Brasil, por meio da representação literária”.
SEGUNDA E TERCEIRA ETAPAS
Para a 2ª Etapa foram indicados os livros “Lucíola”, de José de Alencar; “A Falência”, de Júlia Lopes de Almeida; “A mão e a Luva”, de Machado de Assis; “Olhos D´água”, de Conceição Evaristo; e “O Lado de Dentro das Coisas”, de Karla Celene Campos. As obras da segunda etapa tentam discutir sobre a mulher e a escrita. Os livros de Alencar e Machado de Assis evidenciam retratos de mulher escritos por mãos masculinas, no século XIX. Da mesma época literária, Júlia Lopes de Almeida representa o mundo burguês e o espaço destinado às mulheres sob o ponto de vista feminino. As autoras Conceição Evaristo (contos) e Karla Celene (poemas) dão seu testemunho literário e, comparativamente, representam a escrita da mulher contemporânea, sob diferentes perspectivas.
Foram relacionadas para a 3ª Etapa as obras: “O Amanuense Belmiro”, de Cyro dos Anjos; os contos “Teleco, o Coelhinho”; “O pirotécnico Zacarias”; “O Homem do Boné Cinzento” e “O Ex-Mágico da Taberna Minhota”, de Murilo Rubião; “Amores oblíquos”, de Evaldo Balbino; “Crepúsculo de Arame”, de Wagner Rocha; e “Cabaré Mineiro”, Filme, de Carlos Alberto Prates Correia.
De acordo com a Comissão Técnica de Concursos, esta etapa celebra a diversidade da representação literária e homenageia dois autores mineiros: Cyro dos Anjos, com sua escrita densa e memorialística, e Murilo Rubião, com seus contos insólitos (em seu centenário). Amores Oblíquos, de Evaldo Balbino (contos) e Crepúsculo de Arame, de Wagner Rocha (poemas),constituem expressões do viver do homem contemporâneo, com seus conflitos. O filme Cabaré Mineiro, do cineasta montes-clarense Carlos Alberto Prates Correia, dialoga com a obra de outros dois representantes da literatura de Minas Gerais: João Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade.
FONTE: Site da Unimontes