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Márcio Moraes
no leito solidário de uma floresta altiva descansem por favor a minha poesia
Textos

Publicação na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Volume XXVIII. 1º Semestre de 2022. 

Márcio Adriano Moraes. Cadeira N. 59. Patrono: João Valle Maurício.

 

 

Sorveteria Pinguim

 

Uma esquina de gelo sabor. Presidente Vargas com Coronel Prates. Quantas vezes pedi a meus pais para me levarem à Sorveteria Pinguim. Se havia outra na cidade não me lembro. É bem provável que havia. Com certeza havia outras sorveterias. Mas meu sorver de menino da década de oitenta era todo da Pinguim. Um menino que adentrou nos anos noventa com a mesma predileção de sorvete. Até que subitamente a sorveteira se fecha para este século.

 

De creme de ovos. Era o preferido. Depois daquele creme amarelado o de chocolate. Também de flocos muito me agradava. E ali na Sorveteria Pinguim eu recebia com olhos gulosos a casquinha. Lembro-me de quando apareceu o tal de cascão. Era uma febre. Todos queriam o cascão. Experimentei confesso. Mas eu gostava mesmo era da casquinha. E comia ela todinha. Ainda me lembro do sabor do sorvete. E nem é preciso fechar os olhos para senti-lo. Como numa experiência sinestésica de memória e realidade.

 

Havia um hábito na família. Aos sábados íamos ao Bar do Gama saborear deliciosa feijoada. Ainda hoje esse ritual se preserva. Com algumas lacunas de sábados porém. Mas a feijoada do Seu Adair ainda é real. Naqueles idos o Gama ficava no bairro Funcionários na Rua Raul Correa. Hoje o Bar do seu Adair está em sua casa no Morada do Parque bem atrás do Milton Prates. No retorno da feijoada era parada obrigatória a Sorveteria Pinguim. Meus pais e meu irmão comigo escolhiam cada qual seu sabor. O meu quase sempre era creme de ovos. Havia uns banquinhos dentro da própria sorveteria para sentarmos. Não era uma sorveteria dessas atuais as quais possuem um atendente de mesa. Era pedir o sorvete sobre um balcão e sair sorvendo. Contudo preferíamos sentar nos banquinhos que havia no canteiro central da Coronel Prates. Esses banquinhos hoje também são memória. Junto com a sorveteria eles se foram. Como muitas casas que existiam imponentes na mesma Coronel Prates. O quanto eu desejava descobrir o interior daquela construção de esquina que depois me disseram ser um seminário para padres. Demolido para se tornar um supermercado. Um outro lugar que tive o prazer de entrar uma única vez foi a prefeitura velha. Ficava do mesmo lado que o tal seminário. Hoje não mais.

 

A Sorveteria Pinguim nunca soube o tanto que me fez falta. E ainda me faz. Após seu baixar de portas a esquina foi se tornando muitos outros comércios. Mas ainda na minha lembrança os azulejos brancos e toda uma estrutura que satisfez meu paladar. A Pinguim não era só sorvete. Havia também os Gelos Pinguim. Gelos em cubo ou em barra ou britados. Os gelos sobreviveram um pouco mais na Avenida João XXIII. Todavia o gelo mais saudoso era o que se derretia na boca.

 

Uma vez eu entrei na Sorveteria Pinguim e sorvi o meu último creme de ovos. Quando foi isso não me lembro. Assim como também não tenho a fresca data do seu fechamento. Só sei que a Sorveteria Pinguim ainda vive no adulto que hoje sou. Uma vivência de sabor de infância e adolescência. Uma certeza de experiência sensitiva. Uma saudade que me bate com sabor de creme e de nostalgia.

 

Márcio Adriano Moraes
Enviado por Márcio Adriano Moraes em 15/10/2022
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