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Márcio Moraes
no leito solidário de uma floresta altiva descansem por favor a minha poesia
Textos

MAGALHÃES, Anala Lélis; MENDES, Yury Vieira Tupynambá de Lélis (Org.). Antologia Jubileu de ouro da Unimontes: prosas & versos. São Paulo: Catrumano, 2012. 

 

O reluzir destes versos e prosas antológicas

 

Um universo de prosas e poemas preenche esta “júbila” e dourada antologia. Uma verdadeira universidade de escritores de diversas áreas, formações, estirpes, heranças, estilos. Nas ciências exatas, o direito das ciências econômicas e médicas; as letras desenhadas em músicas dramáticas e em telas românticas; as várias histórias de acadêmicos, mestres e doutores dentro de uma mesma artéria que, saindo do coração, jorra poesias em nossos olhos.

 

A leitura deste livro comprova a variabilidade artística de seus escritores. Ecos dos românticos, dos simbolistas, dos realistas, dos marginais, dos loucos de todos os tempos são refletidos nestas páginas, numa antropofagia intensa e magna, gerando a originalidade peculiar de cada um.  Aos moldes de uma poética contemporânea libertária, versos livres e brancos se harmonizam com sonetos, rimas e ritmos. A prosa poética de cunho intimista, reveladora de um “eu” tenso e angustiado diante do mundo, depara-se com narrativas satíricas e sociais. São versos e prosas que emergem dos mais variados grotões, ruas, praças, bairros, cidades destas terras pequizeiras. O que desejam os poetas e prosadores desta antologia? Isto:

 

Cantar o amor pelo sertão, vivê-lo, beijá-lo, amá-lo. Este locus perfectus, banhado pelo Velho Chico, com uma valentia religiosa e mítica, repleto de encantos e estórias. Um sertão de terras altas, de sobremontes, de princesas, de festas juninas, roceiras, que nos ressacam, nos fazem chorar e sermos dignos de ser amados. Um sertão da meninice, do cheirinho quente de leite, da sinhazinha que logo crescerá e entrará na roda dos artistas.

 

Mas há também as saudades do mar, distante do sertão, esculpidas em vidro. Um passado rememorado, os acertos e erros de um mundo de sonhos, que são os livros, os quais nos trazem esperança diante da turbulência cotidiana da cidade. O dia a dia lamuriante de um acordar sempre triste. A vida, um sofrimento, uma monotonia angustiante que se inicia nos primeiros sinais da manhã. Nem mesmo a chuva é capaz de lavar tal covardia, aumenta o tédio e a tristeza apenas. Contudo, da janela do ônibus a vista para na frase pichada no muro: “o vento sopra, os obstáculos fazem música”. Ah, poesia singela dos marginais que nos fazem entender! Agora, sim, rasgar-se todos os dias, para nascer novamente, contaminar-se com um vírus de felicidade, ouvir a música e deixar guiar-se pelos cálculos da vida.

 

Porém, nem sempre somos capazes de olhar pela janela e enxergar as possibilidades existentes. Uma domesticação, um mergulho dentro de si, como fez Brás, Bento, Honório e Abdias, é uma forma de superar-se. Livrar-se do mundo embriagado e drogado, preconceituoso e quadrado. Seguir a vocação familiar, enraizada no seio ostentoso por séculos, é uma amarra. Experimentar, sim, sempre. Mas cada um sabe até onde podem alcançar seus olhos. O mais importante nesse mergulho é resgatar ou deixar nascer o homem ou mulher que aí estão esperando.

 

Parece desatino, mas não. Aventurar-se dentro de si é a mais fantástica das viagens. Pessoa encontrou três em si. Também Alfonsos, Dora e tantos outros. Esquizofrenia? Patologia psíquica? O que seria essa loucura que nem Bacamarte conseguiu serrar em sua casa verde? Se ser poeta é ser esse desvairado, que sejam, pois, confirmados os versos do “Assinalado” sousiano:  “Tu és o louco da imortal loucura/ O louco da loucura mais suprema”. Às vezes, o “eu” precisa ser o outro para realizar os seus desejos. Pense no amor, nesse sentimento que revigora e arrefece. Como beijar os lábios que não são seus? E no beijo sentido, a boca enganada. O desespero de uma traição utópica e um suicídio culposo. Todavia, ainda que no seu desatino, o poeta brinde, sem taça, a misteriosa morte que nos aguarda, um abraço de amizade verdadeira o faz lembrar que também é humano.

E sendo, portanto, um habitante deste mundo, é impossível desprender-se dos fatos. Acontecimentos históricos que marcaram a humanidade não podem passar despercebidos à pena dos poetas. O 11 de setembro de 2001, por exemplo, cujas consequências repercutem até os dias hodiernos, uma tragédia tatuada. Bandas e Lados de um incidente que encontra sempre páginas a serem preenchidas. Mais próximo, logo ali, a política costumeira e corrupta. Aquela que o pai político impõe ao filho despreparado e sem “vocação”. Aquela, da qual todos sabem, repleta de falcatruas, que é comentada nos bares e nas ruas, criticada, mas ansiada.

 

Mas de todos os sentimentos, de todos os gritos proclamados pelos poetas, o amor sempre impera. Um amor que é feito de rosas e espinhos, um amor que aprisiona, saudoso, que liberta, que derrama o líquido da xícara sobre a mesa. Um amor paradoxal, dos verdadeiros românticos que se entregam exageradamente. É esse amor raro que se canta e se vive nesta antologia. Mesmo quando se caminha, só, pela praia, de madrugada, a espera de uma desesperança, bem próximo das águas, o enlace chega diante da imensidade do mar e da lua. Eis o amor.

 

Findando este reluzir, a mensagem do soerguer. Ainda que a inocência pueril tenha sido perdida, apesar das lágrimas, das traições, é precípuo retomar a jornada e seguir altivo o longo caminho da vida, sempre. Levar, enfim, as imagens do encontro e a saudade da despedida. E assim esperam os poetas que seus versos sigam como um saveiro, repleto de vida, a procura de um porto seguro para descarregar suas poesias. E que esse ancoradouro seja o seu coração.

Márcio Adriano Moraes
Enviado por Márcio Adriano Moraes em 14/01/2025
Alterado em 14/01/2025
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