Publicação na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Volume XXXIII. 2º Semestre de 2024. Márcio Adriano Moraes. Cadeira nº. 59. Patrono: João Valle Maurício.
Eu sempre a achei a mais rica de todas. Se de fato era, não sei. Sua fachada, com uma escadaria na frente, coberta por um toldo vermelho e branco, encantava-me. Não era um ambiente que frequentávamos com frequência. A sua cozinha, para nós, somente em dias especiais. Eu não tinha noção de valores nem nada. Era um menino dos anos oitenta em Montes Claros. Meus pais é que me levavam, e eu só ia. Mas como amava estar ali, mais pelo playground que pela comida. Hum, mas quando a comida chegava! Ah, que delícia de pizza!
Lembro-me de que minha madrinha, que hoje brilha em alguma estrela, quis ir comemorar seu aniversário lá. Fomos. Obviamente havia outros pratos. Não me lembro qual foi o prato principal, mas sei que eu e a molecada comemos pizza. Papaula! Nunca me atentei para o significado do nome quando menino. Para mim, era só um nome. Depois de já grandinho e capaz de perceber as formações gráficas, eu li lá o nome de uma mulher, Paula. E, por um instante, até imaginei quem seria a musa das pizzas. Quem foi a receita inspiradora para aquele nome de encanto. E, surpreendam, somente agora quando esta crônica se traça, é que soube de Paula Pádua.
A Papaula me era monumental com mesas espalhadas na parte de baixo e preenchendo a superior de cima. Pizzaria de esquina da avenida famosa pelo rio que virou esgoto. A Sanitária era assim e até então chamada. Uma avenida alvo de destino de passeios e entretenimentos. E, principalmente, uma avenida de bares e restaurantes tradicionais.
Papaula! esse nome reverbera na memória de muitos saudosistas. Restaurante distante, apenas para momentos especiais. Não sei por que, mas assim permaneceu para mim até depois de formado e casado. Vamos à Papaula? Opa, era uma ocasião especial: bodas de trigo. E quanta simbologia traz esse alimento, ingrediente básico para qual prato? Pizza! E foi assim, numa noite de dezembro, minha esposa e eu fomos à Papaula. A escolha do sabor deveria ser diferenciada, especial, uma de camarão. E foi lá que a primeira pizza de camarão da minha vida sentiu o meu paladar. E que delícia de sabor. Um gosto gostoso de momento perpetuado na memória. Ao pagar a conta, o garçom só se esqueceu de avisar que seria a última. Se sabia ou não, não sei. Mas sei que aquela pizza cujo sabor sinto agora foi a última que saciou o último momento sob o teto da Pizzaria Papaula.
Tempos depois, numa manhã, quando ia para o trabalho, surpreendo-me com uma máquina destruindo aquele mundo de décadas de histórias. Paralisado ali diante fiquei. Uma força-inércia me voltava no tempo. Naquele sem acreditar e naquele por quê! Assim, subitamente, tudo acabado. A Papaula de meus olhos enchidos de brilho, agora um espaço vazio de terreno. O letreiro em destaque nunca mais. O forno queimando a massa só no aroma da lembrança. E a canção de uma montes bares claros cada vez mais perdendo um verso para a vida. E assim seguem os acordes a nos tocar em sua melodia.