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Márcio Moraes
no leito solidário de uma floresta altiva descansem por favor a minha poesia
Textos

A pata da gazela, de José de Alencar

por Márcio Adriano Moraes

Publicado em 1870, A Pata da Gazela do cearense José de Alencar é um romance urbano ou de costumes, ambientado no Rio de Janeiro. Além de sua inserção no período Romântico, a narrativa traz uma crítica aos valores da sociedade burguesa carioca, especialmente das convenções sociais e da superficialidade de relações pessoais.

 

A história gira em torno de um “triângulo amoroso” protagonizado por Amélia, que se torna a paixão de Horácio e Leopoldo. O primeiro é o “leão” conquistador, vaidoso e arrogante, que se apaixona por uns pequenos pés que coubessem em um “sapatinho”; já o segundo, é um jovem mais simples, tímido e sincero, capaz de um amor puro e verdadeiro.

 

A primeira cena do livro é fundamental para o desenrolar da história. Antes de entrar numa carruagem, um criado deixa cair um embrulho. No carro estavam as primas Laura e Amélia. Leopoldo vislumbra à distância o sorriso de Amélia, encantando-se por ela; enquanto Horácio consegue apanhar o embrulho caído, no qual continha uma botinha bem pequena. Imaginando que o calçado fosse de Amélia, decide conquistá-la; mas o seu amor é meramente baseado em uma fantasia física. Por outro lado, Leopoldo, desde aquele dia, também já lhe tinha amor, vendo nela mais do que apenas uma beleza exterior, aproximando-se de forma mais discreta e genuína.

 

A bela Amélia é, então, cortejada pelos dois cavalheiros, ficando dividida entre a vaidade que o requintado e belo Horácio lhe proporciona e o carinho sincero que sente por Leopoldo. Após uma série de peripécias, seguindo o típico happy end dos contos de fadas, como em Cinderela, Amélia escolherá o amor verdadeiro para o seu enlace.

 

Em A Pata da Gazela, José de Alencar critica, dessa forma, os costumes da sociedade de seu tempo, explorando temas que ainda se preservam, como a superficialidade das relações, a vaidade, o amor idealizado e a disparidade entre a aparência e a essência. Horácio, obcecado pelos pés de Amélia, representa uma forma de afeto fútil, moldada pela vaidade e pelo desejo de posse. Ele não a ama por quem ela realmente é, mas pelo símbolo de perfeição que os pequenos pés dela representam para ele. Esse tipo de relacionamento vazio, segundo o autor, está fadado ao fracasso, pois se apoia em idealizações sem profundidade. Além disso, Horácio também se torna o reflexo do homem fútil, presunçoso, que busca constantemente impressionar os outros. Sua preocupação está na imagem pública, no que a sociedade pensa dele, e não em sentimentos genuínos. Através desse personagem o romancista evidencia valores como riqueza e aparência física sobrepondo-se a virtudes como sinceridade e honestidade.

 

Em oposição a Horácio, o tímido e sincero Leopoldo se torna o verdadeiro herói da trama. Ele não se preocupa em conquistar Amélia por artifícios ou vaidades, mas por sua afeição honesta e profunda. Sua transformação ao longo do romance, assumindo uma postura mais confiante e madura, reflete a força do amor verdadeiro e a importância da autenticidade nos relacionamentos.

 

Ao longo da narrativa, Alencar usa o humor e a ironia para criticar as convenções sociais e as expectativas irreais da sociedade em relação ao amor e ao casamento. A obsessão de Horácio pelos pés de Amélia é uma caricatura da importância exagerada que se dá à aparência física, enquanto o próprio desfecho, com Horácio resignado e reflexivo, expõe a futilidade de sua busca por um ideal inatingível, deixando-se “pisar pela pata gazela”, logo ele que se considerava um “leão”.

 

A Pata da Gazela, portanto, é uma obra que vai além de uma simples história de amor. Ela é uma profunda reflexão sobre os valores sociais e os sentimentos humanos, retratando de forma crítica e irônica a vaidade e a superficialidade que permeiam a sociedade carioca do século XIX. Ao final da trama, o romance convida o leitor a valorizar o que é verdadeiro nas relações humanas, colocando a sinceridade e o amor genuíno acima das aparências. Com uma linguagem leve e envolvente, José de Alencar constrói uma narrativa que, embora ambientada no século XIX, ainda levanta questionamentos relevantes sobre o comportamento humano e o modo como nos relacionamos com os outros.

 

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Márcio Adriano Moraes
Enviado por Márcio Adriano Moraes em 02/10/2024
Alterado em 04/10/2024
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