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Márcio Moraes
no leito solidário de uma floresta altiva descansem por favor a minha poesia
Textos

Discurso de Posse na Academia Montes-Clarense de Letras

 

Márcio Adriano Moraes

Cadeira 2. Patrono José Tomás de Oliveira

 

Cá dentro, olho distante esta nossa terra no tempo. E me chegam histórias tantas de tantos que por aqui pisaram. Homens e mulheres cujos passos em célebres páginas deixaram. E, em cada pegada, uma palavra, frase ou verso para a posteridade. E do alto saber assim pensaram uma arcádia sertaneja nesta cidade norte-mineira. Eis que, em meados dos anos sessenta, exsurge, então, a Academia Montes-Clarense de Letras.

 

Entre os fundadores, estava José Raimundo Neto, nascido em Carangola de Minas a 11 de outubro de 1897. Deixou a Zona da Mata mineira para concluir os estudos primários às margens do São Francisco januarense. Os estudos secundaristas foram, porém, em Paracatu. À terra barranqueira retorna e vai de estudante a professor. De mestre de classe das humanidades e linguagens a diretor em Três Corações. Em Monte Claros, sua cátedra no Colégio Imaculada, na Escola Normal e no Instituto Dom Bosco foi lecionada. De diretor a inspetor de ensino. Orador eloquente, de cultura e muito brio. Ocupou a segunda cadeira, sob o patronado de José Tomás de Oliveira, e o segundo presidente da Academia José Raimundo Neto se tornaria.

 

O patrono da cadeira segunda, José Tomás de Oliveira, em Recife, Pernambuco, nos idos de 17 de abril de 1875, nascia; filho de Tomás e de Joaquina. Nas terras nordestinas em Direito se gradua, mas nas Minas Gerais a magistratura é onde atua. Foi de Carmo do Paranaíba a Montes Claros, onde dirigiu o periódico “A Opinião do Norte” e, por aqui, exerceu muitos outros cargos: juiz substituto de comarca, professor, inspector escolar, jornalista, juiz municipal, até delegado de polícia. Mas foi na advocacia e no jornalismo que José Tomás de Oliveira se realizaria. Depois de uma estada no Rio de Janeiro, a Montes Claros retorna para fundar o jornal “Gazeta do Norte”. Seu nome nos anais da imprensa é assinalado com relevante importância para o jornalismo sociopolítico e cultural da cidade com modernas tipografias para seu tempo.

 

E assim, José Raimundo Neto, fundador da cadeira segunda da Academia, tendo por patrono José Tomás de Oliveira, nela permaneceu até seu passamento em 1978 em Belo Horizonte. Quando então, o primeiro sucessor assume o posto: Henrique de Oliva Brasil, natural de Santo Antonio da Boa Vista, em São João da Ponte. Embora nascido nessa cidade mineira, em 15 de março de 1903, foi aqui em Montes Claros que seus olhos se ampliaram, sem deixar as vistas por outras terras norte-mineiras como Brasília de Minas. Sem os louros universitários, Oliva Brasil não precisou de graduação acadêmica para se tornar um dos mais prestigiados historiadores de seu tempo. Após consideráveis anos de garimpo documental, de relatos e de estudos, no ano em que eu chegava a este mundo, em 1983, o livro História e desenvolvimento de Montes Claros vinha a público. E que esmero de trabalho, não só sobre o passado e presente de seu tempo, mas para o hoje e o futuro deixa o seu legado. Dados históricos, aspectos geográficos, infraestrutura, indústria e comércio, agricultura e pecuária, institutos financeiros, saúde e saneamento, vida religiosa, social e cultural, folclore, clubes, associações esportivas, administração pública, ensino e educação, biografias. Um amplo olhar norte-mineiro pelas mãos de um Brasil, que chamado foi à nação celeste em 8 de julho de 1984.

 

A segunda cadeira, então, outrora das humanidades, passa a ser ocupada pelo médico ginecologista e obstetra José Rametta dos Santos. Filho legítimo de Montes Claros, nasceu em 13 de março de 1931 para edificar uma nobre carreira na área da saúde. Pioneiro e benfeitor do ensino superior, foi um dos fundadores da Faculdade de Medicina do Norte de Minas. As mãos que muito bem cuidaram de seus pacientes também se dedicaram aos versos e às narrativas. Deixando a urbanidade de São Paulo, ainda garoto, viveu na simplicidade interiorana de Capitão Enéias. “O velho Morris”, “O Garanhão”, “O Doutor Gotardo” e “O Doutorzinho” são algumas das histórias de Os Meninos do Sapé, livro de 1989. José Rametta dos Santos traçou sua rota neste mundo pelas letras e pelas ciências com hombridade e exemplo de dedicação familiar. Seu chamado ao plano superior se deu em 30 de junho de 2020.

 

Quatro anos de vacância, portanto, permaneceu esta cadeira segunda da Academia. E hoje, neste 14 de setembro de 2024, aqui estou, sob aura musical do Conservatório, para me pôr ao lado desses ilustres. Desta terra catrumana sou filho nativo, aqui brotado em 9 de julho de 1983. A minha gênese paterna veio de São Sebastião do Paraíso; a materna de Franscisco Sá; um enlace áureo-natalino. Fui menino de quintal de terra e cimento, de imaginação fértil no peito. Os primeiros versinhos foram riscados por uma Flor no Fundamental. Um pouco mais ousados no ensino médio pela mãe de todos, Eva, nas sombras de um Carvalho. Mas foi no Psiu Poético que minha voz reverberou e do fim do século passado até a presente data sou quem sou.

 

A travessia nunca é só. Há sempre pontes humanas a nos tanger com impulso à frente. A palavra que fica é aquela mesma que só o coração diz. E é essa palavra que a todos digo neste momento, sem precisar dizê-la, pois já está no peito escrita. Espero com minha presença genuína deixar lirismo no enredo desta Academia. Com meu tom, às vezes clássico, às vezes moderno, anseio ser presença que edifica com pedra árida e pedra mica.

 

Montes Claros-MG, 14 de setembro de 2024

Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernández

Márcio Adriano Moraes
Enviado por Márcio Adriano Moraes em 15/09/2024
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