subo a serra sapucaia de meus montes claros
contorcendo-me com os galhos
deixando minha casca grossa no vermelho solo azonal
como caducifólias em outono invernal
meus olhos buscam o grande sertão nas veredas do parque
mas a esparsa vegetação tropófila rompe em chamas de carvão
então busco a resiliência nas profundas raízes pivotantes
para manter sempre vivas as cagaiteiras o tronco dos ipês do buriti pequi
nas águas de francisco mergulho no mosaico sertão veredas-peruaçu
para desaguar bem no centro deste brasil assolado
planando sobre os planaltos
chapando sobre as chapadas
do meu cerrado
do alto de minhas minas gerais invoco a preservação
de minhas aroeiras intactas dos homens
a natureza por si
mas as fazendas e seus currais ombreiras e umbrais
reivindicam no passado a madeira de seu grito
e vejo serras em prol do eucalipto e serras virando condomínios
desço do alto e busco a conservação de que preciso
a harmonia humana protecionista
o sustento estável de um cerrado sustentável
ó pai das águas do coração continental do brasil
que sejam limpos seus campos sujos e que sejam fartos seus campos ralos
sob suas copas que se abrem para o céu me protejo num desejo intenso
de ver este cerradão nos vindouros anos dos meus descendentes
saboreando seus frutos
com o mesmo sabor que deixou nos lábios
dos primeiros homens que lhe degustou
In.: ASSIS, Ivone Gomes de; MELO, Evandro Valentim de. Floresta de ponta-cabeça. 2.ed. Uberlândia: Assis Editora, 2020, p. 132.