Em ritmo camoniano, Petrônio, em sua epopeia franciscana, narra-nos com peito ilustre a gênese ufana deste rio majestoso. Com suas oitavas líricas, este vate sertanejo adentra nos mistérios do velho Chico. Do fantástico El Dourado às etnias indígenas, do encantamento inicial às chacinas e à Catarina. Com o “Gênese do São Francisco”, essa índia Caiapó é elevada à Paraguaçu, à Moema e à Iracema. Braz guia o leitor pela história do São Francisco, como numa guerra entre gregos e troianos. E após esse poema bem ritmado, mergulhamos num céu deserto, bem livre, o qual traz à memória a fauna das águas morenas. Numa sequência de sonetos, o autor brinda o leitor com os lamentos do São Francisco, com seus vaqueiros e barqueiros. O pescador, cuja vida pertence ao rio, navega com sua solidão entregue ao tempo. O magno livro, o livro dos livros, inspirador de literatura e de vida faz o eu lírico mergulhar em si. Afloram, então, as ilusões e confissões do poeta, sua reflexão sobre os valores e o repúdio àqueles homens que preferem “uma moeda de cobre a uma página de Lamartine”. A poesia de Braz se torna sintética, tercetos e dísticos existenciais e líricos. Um poeta que domina desde a composição clássica à liberdade estética moderna, não fugindo, inclusive, à prosa poética. Braz é um poeta que questiona, que julga, que pensa, que ama. Estas Águas morenas não são apenas correntezas poéticas de um eu lírico, são também as vozes do Norte de Minas. Com as expressões idiomáticas, os ditados, os provérbios e as quadrinhas populares, Braz põe nas nuvens todo o sertão. E é preciso lembrar que este nosso sertão rosa é do tamanho do mundo. Depois da leitura deste livro, é impossível não arrastar as asas para As águas morenas do São Francisco, mergulhar e se deixar levar pela correnteza poética de Petrônio Braz.