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Márcio Moraes
no leito solidário de uma floresta altiva descansem por favor a minha poesia
Textos
Um quadro
 

Ela foi vislumbrada pela primeira vez encostada em um muro pintado com grafite. Nunca a tinha visto antes. Parecia uma flor no meio daquelas cores escuras do muro. A sua beleza era radiante e muito adiante dos padrões convencionais. A lua não seria tão inspiradora. Vencida a timidez, aproximação certa.

Deveria dizer alguma coisa, algo significativo para uma primeira impressão. Nada do tipo “o dia está quente hoje” ou “você vem sempre aqui”. Frases banais sem sentido, apenas para acionar a função fática da linguagem. Disse então que ela era o toque mágico que faltava à arte do grafiteiro. Sorriu, não um sorriso sem graça, mas significativo, mensagem positiva ou passada. Para completar, disse que era pintor. Não um artista das ruas como grafiteiros. Arte que se manifesta em quadros no quarto, preso a reflexões. Ela quis saber quais tipos de quadros. Então, é feita a proposta: ir ao atelier. Queira lhe mostrar algo, lhe dar um presente. Uma desconfiança confiável. Sem saber muito bem por que, a garota sente sinceridade nas palavras e resolve ir.

Depois de poucos metros, uma casa de um único pavimento, muito simples, com grites no muro. O portão se abre e um pequeno cão dá as boas-vindas. Numa sala com muitas telas por acabar, outras terminadas; muitas tintas espalhadas pelo chão e em galões, pincéis...

Disse para ela ficar sentada em um banco, queria lhe dar um presente. É claro que ela entendeu que se tratava de um quadro e aceita o convite.

Passados alguns minutos, lá estava a moça retratada na tela. Uma visão belíssima. É incrível poder traduzir tão magna beleza humana em algo concreto e abstrato ao mesmo tempo. A pintura ficara muito melhor que a própria garota que se sentiu inferiorizada frente a tanto talento. O quadro é ofertado à moça que a princípio recusa, mas termina por aceitar. Ficou tão impressionada que o seu peito manifestou sentimentos amorosos.

O atelier é deixado e os passos conduzem até o ponto de ônibus. As palavras se perdem, e a moça se esquece de perguntar o nome. O ônibus chega, não há mais tempo e um adeus marca a despedida.

No dia seguinte, ela vai até o atelier. Um senhor de barbas e fadigado abre a porta. Ela pergunta sobre o pintor. E o senhor diz que ele era o pintor. Ela se confunde, pois quem a pintou foi um rapaz jovem. O velho furioso brada: “mais uma, não aguento mais isso!”. Fecha a porta, e o cão fica latindo cá dentro.
Márcio Adriano Moraes
Enviado por Márcio Adriano Moraes em 27/05/2013
Alterado em 16/12/2019
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