Crônica publicada no jornal “O Norte”, dia 13 de fevereiro de 2010
Alcançando o ônibus
Ele está na Rodoviária esperando o amigo chegar, pois estava com a passagem dele. Mas o relógio não para e logo a voz diz: “atenção senhores passageiros do ônibus com destino a Belo Horizonte do horário das 22h, a nossa companhia lhes deseja boa viagem”. Pronto, ele começa a desesperar, o amigo não chega. Viva a tecnologia telefônica. O amigo atende o celular e diz que está quase chegando. Ele resolve esperar dentro do ônibus. Avisa ao motorista que seu amigo está chegando. O motorista espera alguns minutos, mas deve cumprir o horário para não causar atritos com os outros passageiros. Engate e aceleração. O amigo não chegou a tempo.
Ele liga novamente para o amigo e diz que o ônibus já partiu. O amigo tem uma ótima ideia: “pode deixar que eu alcanço o ônibus”. Ele então avisa ao motorista se era possível parar na estrada rapidamente só para o amigo entrar. O motorista não se opõe. Ele se acomoda na sua poltrona da janela, a do corredor estava reservada para o amigo. E como não podia relaxar preocupado com o amigo, liga constantemente; e o amigo, “calma estou quase o alcançando”.
As viagens noturnas, normalmente são feitas por pessoas que só almejam o destino. Não importa para elas as cidades por onde passam, se há verde ou seca na beira das estradas. Elas não querem enxergar, querem apenas adormecer, e raras vezes há alguém que se preze a apreciar as estrelas.
De repente, o celular toca, ele atende prontamente. O amigo diz que já está enxergando o ônibus a sua frente e pede a ele para avisar o motorista para parar. Ele então vai até ao motorista e o pede para parar já que o seu amigo estava logo atrás do ônibus. O motorista prudente observa o melhor local para encostar e assim é feito. Ele volta para sua poltrona julgando que agora vai dar tudo certo e que seu amigo em breve estará sentado ao seu lado.
O amigo entra no ônibus e conversa alguma coisa com o motorista e volta para o seu carro. O motorista arranca e segue viagem. Ele sentado na poltrona, percebe que o amigo não entrou no ônibus e foi até ao motorista saber o que houve. Um pouco confuso o motorista disse a ele que o amigo subiu e perguntou se havia outro horário, se havia outro ônibus que sairia mais tarde. O motorista disse que sim, havia o ônibus da meia-noite que também iria para Belo Horizonte. E logo em seguida o amigo agradeceu e voltou para o carro, dizendo que pegaria o próximo ônibus. Não resistindo à cena cômica, o motorista ainda acrescentou: “com todo o respeito, mas esse seu amigo é doido”.
Ele volta para a poltrona com a mão na face tentando disfarçar o riso, mas solta gargalhadas. Tenta ligar para o amigo, mas o celular está fora de área. O amigo volta envergonhado, pensativo e solitário, dirigindo seu carro.