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Márcio Moraes
no leito solidário de uma floresta altiva descansem por favor a minha poesia
Meu Diário
23/11/2015 11h21
PAES 2ª ETAPA/2015 - Questões com Gabarito Comentado

PAES 2ª ETAPA – 2015 
Prova: 22 de novembro de 2015
Questões com Gabarito Comentado​

QUESTAO 11
Leia atentamente o trecho retirado da peça teatral O demônio familiar, de José de Alencar.

EDUARDO: Por que, minha irmã? Todos devemos perdoar-nos mutuamente; todos somos culpados por havermos acreditado ou consentido no fato primeiro, que é a causa de tudo isto. O único inocente é aquele que não tem imputação, e que fez apenas uma travessura de criança, levado pelo instinto da amizade. Eu o corrijo, fazendo do autônomo homem; restituo-o a sociedade, porém expulso-o do seio de minha família e fecho-lhe para sempre a porta de minha casa. (A Pedro) Toma: é tua carta de liberdade, ela será a tua punição de hoje em diante, porque as tuas faltas recairão unicamente sobre ti; porque a moral e a lei te pedirão uma conta severa de tuas ações. Livre, sentirás a necessidade do trabalho honesto e apreciarás os nobres sentimentos que hoje não compreendes. (Pedro beija-lhe a mão)
AZEVEDO: Mas agora, por simples curiosidade, diz-me, Gamim, que interesse tinhas em desfazer o meu casamento?
PEDRO: Sr. moço Eduardo gosta de sinhá Henriqueta!
AZEVEDO: Ah!... bah!...
EDUARDO: Sim, meu amigo. Eu amo Henriqueta e para mim esse casamento seria uma desgraça; para o senhor era uma pequena questão de gosto e para seu pai um compromisso de honra. Hoje mesmo pretendia solver essa obrigação. Aqui está uma ordem sobre o Souto; O Sr. Vasconcelos nada lhe deve.
VASCONCELOS: Como? Fico então seu devedor?
EDUARDO: Essa dívida é o dote de sua filha.
HENRIQUETA: Oh! Que nobre coração!
EDUARDO: Quem mo deu?
HENRIQUETA: Sou eu que sinto orgulho em lhe pertencer, Eduardo.

(O demônio familiar, José de Alencar.)

Sobre a peça, é INCORRETA a alternativa:
A) A atmosfera da classe burguesa do século XIX é apresentada em tonalidades românticas.
B) Ideologicamente subjaz a ideia de que a escravidão não é tão maléfica, e que a relação entre patrões e escravos é cordial.
C) O papel conferido à mulher representa a subalternidade e a submissão características do patriarcalismo burguês.
D) A história dramatiza as relações familiares em que o escravo é recompensado com a alforria, em paga de seus serviços domésticos.

Gabarito: D

A (correta) Essa alternativa se justifica pelo próprio estilo literário do qual José de Alencar é representante, o Romantismo. B (cordial) O escravo Pedro se apresenta como um “membro” da família, conversa segredos com seus senhores, participa de momentos familiares; as ações de Pedro, que causam desconforto entre seus donos, não foram reprimidas com castigos corporais. C (correta) A personagem Henriqueta no fragmento deixa sua subalternidade evidente quando diz que sentirá orgulho em pertencer a Eduardo. D (incorreta) A carta de alforria, como está explícito no fragmento, é a punição do escravo, não sua recompensa; ele só recebe sua liberdade depois de ter realizado ações que prejudicassem seus senhores. 

QUESTAO 12
Leia o fragmento extraído do romance O seminarista, de Bernardo Guimarães.

“Ah, celibato!... Terrível celibato!... Ninguém espera afrontar impunemente as leis da natureza! Tarde ou cedo, elas têm seu complemento indeclinável, e vingam-se cruelmente dos que pretendem subtrair-se ao seu império fatal!...”.
(O seminarista, Bernardo Guimarães.)

O fragmento acima e o livro como um todo expressam a seguinte conclusão, EXCETO
A) Na tentativa de denunciar o celibato religioso, o autor compõe um drama de amor romântico não correspondido.
B) O romance, considerado de tese, representa a vitória dos impulsos humanos sobre as leis sociais.
C) O autoritarismo paterno e a hipocrisia dos dogmas religiosos são objetos de crítica do romance.
D) A diferença de classes entre os amantes aparece também como argumento das críticas que constam do enredo do livro.

Gabarito: B

A (correta) A denúncia do celibato é um dos principais temas do romance; o amor não correspondido se refere à união de Eugênio e Margarida que não se realizou por imposições paternas; o que acarretou o fim trágico da história. B (incorreto) O romance de Alencar, de fato, ensaia um romance de tese; entretanto não há a vitória dos impulsos humanos, mas sim a vitória das leis sociais, já que a vontade dos pais se sobrepôs ao desejo do filho. C (correta) A obra pode ser sintetizada com esses dois temas: autoritarismo paterno, que obriga filho a se tornar padre, e a crítica aos dogmas religiosos, mais especificamente o celibato, que priva o homem de seu instinto humano de concretização de sua sexualidade. D (correta) Uma das razões apresentadas pelos pais do protagonista para a não aceitação de um possível matrimônio é justamente a condição social inferior de dona Umbelina e de sua filha, mulheres que viviam como agregadas na fazenda. 

QUESTAO 13
O trecho que se segue, integrante do romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis, revela a disputa entre os gêmeos Pedro e Paulo, que era já sentida pela mãe na fase intrauterina.

De noite, na alcova, cada um deles concluiu para si que devia os obséquios daquela tarde, o doce, os beijos e o carro, à briga que tiveram, e que outra briga podia render tanto ou mais. Sem palavras, como um romance ao piano, resolveram ir à cara um do outro, na primeira ocasião. Isto que devia ser um laço armado à ternura da mãe, trouxe ao coração de ambos uma sensação particular, que não era só consolo e desforra do soco recebido naquele dia, mas também satisfação de um desejo íntimo, profundo, necessário. (Esaú e Jacó, Machado de Assis.)

Assinale a alternativa que NAO corresponde a uma leitura adequada da obra.
A) A briga dos gêmeos representa também, simbolicamente, o momento político do Brasil, que se dividia entre a Monarquia e a República.
B) O amor pela mesma mulher, a opção política oposta e as outras disputas entre os irmãos enfatizam a ambiguidade da narrativa.
C) O narrador apresenta postura irônica, crítica e reflexiva, ao contar a história dos filhos de Flora.
D) A desavença entre os irmãos recompõe alegoricamente a mesma história bíblica dos irmãos Esaú e Jacó.

Gabarito C
Gabarito oficial: D (cabe recurso)

A (correta) Esse é o principal tema da narrativa, Pedro representa a Monarquia, e Paulo representa a República. B (correta) Como o próprio título da obra sugere, a obra é bipolar, metaforizada nas pessoas de Pedro e Paulo. C (incorreta) Os filhos gêmeos, Pedro e Paulo, são filhos de Natividade; Flora é a mulher pela qual os dois se apaixonam. D (correta/incorreta) Esaú e Jacó, biblicamente, foram dois irmãos gêmeos que brigaram pela primogenitura e se tornaram, cada qual, os patriarcas de grandes nações, o primeiro dos edomistas, e o segundo de israelistas; alegoricamente Pedro e Paulo ilustrariam a monarquia e a república. Evidentemente não é a mesma histórica bíblica, já que os dois não brigam pela primogenitura nem encenam as preferências paternas, como se vê na história de Esaú e Jacó; entretanto, considerando sua alegoria, tal afirmação pode ser considerada correta.

QUESTAO 14
Leia o fragmento crítico a respeito da obra Esaú e Jacó.

A novidade está no narrador, humorística e agressivamente arbitrário, funcionando como um princípio formal, que sujeita as personagens, a convenção literária e o próprio leitor, sem falar na autoridade da função narrativa, a desplantes periódicos. As intrusões vão da impertinência ligeira à agressão desabrida. Muito deliberadas, as infrações não desconhecem nem cancelam as normas que afrontam, as quais entretanto são escarnecidas e designadas como inoperantes, relegadas a um estatuto de meia-vigência, que capta admiravelmente a posição da cultura moderna em países periféricos. Necessárias a essa regra de composição, as transgressões de toda sorte se repetem com a regularidade de uma lei universal. A devastadora sensação de Nada que se forma em sua esteira merece letra maiúscula, pois é o resumo fiel de uma experiência, em antecipação das demais regras ainda por atropelar. Quanto ao clima artístico de época, este final em Nada, é uma réplica sob outro céu, do que faziam os pós-românticos franceses, descritos por Sartre como os ‘cavaleiros do não-ser’. (SCHWARZ, 2004, p. 9).

Assinale a alternativa INCORRETA, tomando por base o fragmento acima e a leitura do livro.
A) A obra machadiana, por estar em consonância com o clima artístico da época, apresenta um narrador que julga os personagens segundo a ótica da moral burguesa do século XIX.
B) O narrador permite-se intrometer no discurso narrativo, no qual deixa evidente sua visão cética, crítica e debochada.
C) O niilismo acentuado marca as relações entre os personagens, que atuam conforme as regras de uma sociedade complacente com a classe dominante e excludente no tocante aos menos favorecidos.
D) A mistura entre a esfera privada e a pública permite inferir que há, no romance, certo grau de determinismo, visto que a ação e a reação de alguns personagens são pautadas pela influência do meio.

Gabarito: A
A (incorreta) Mesmo publicada no início do século XX, a obra traz heranças realistas; sendo assim, o narrador foge à ótica moral burguesa, típica do romantismo; assumindo uma visão denunciativa e crítica das relações sociais burguesas. B (correta) O narrador participa da história, ora se interagindo com as personagens, ora se afastando dos acontecimentos para posicionar criticamente ante os fatos. C (correta) O niilismo consiste no aniquilamento das relações entre os personagens, os quais são vistos por uma ótica negativa; o jogo de interesses, o olhar depreciativo e apreciativo, dependendo da condição social, está presente nas interações sociais do enredo. D (correta) Para ilustrar essa alternativa, basta atentar-se para os posicionamentos políticos que se alternam, numa espécie de “dança”, que se deve acompanhar para se “tirar” proveito da situação.

QUESTAO 15
Leia atenciosamente o trecho introdutório da obra Contos gauchescos, de João Simões Lopes Neto.

Patrício, apresento-te Blau, o vaqueano.
− Eu tenho cruzado o nosso Estado em caprichoso ziguezigue. Já senti a ardentia das areias desoladas do litoral; já me recreei nas encantadoras ilhas da lagoa Mirim; fatiguei-me na extensão da coxilha de Santana; molhei as mãos no soberbo Uruguai; tive o estremecimento do medo nas ásperas penedias do Caverá; já colhi malmequeres nas planícies do Saicã, oscilei sobre as águas grandes do Ibicuí; palmilhei os quatro ângulos da derrocada fortaleza de Santa Tecla, pousei em São Gabriel, a forja rebrilhante que tantas espadas valorosas temperou, e, arrastado no turbilhão das máquinas possantes, corri pelas paragens magníficas de Tupaceretã, o nome doce, que no lábio ingênuo dos caboclos quer dizer os campos onde repousou a mãe de Deus...
(Contos gauchescos, J. Simões Lopes Neto.)

A partir da leitura da obra, assinale a alternativa INCORRETA.
A) O vaqueano assume diferentes posturas nas diferentes histórias que narra, e a voz narrativa alterna-se, ora na primeira, ora na terceira pessoa do discurso.
B) O vaqueiro Blau Nunes narra as histórias por meio do dialeto do gaúcho dos pampas, sem as influências da língua culta portuguesa, podendo, assim, constituir-se o primeiro exemplar de narrativa regionalista brasileira.
C) Nas narrativas, evidencia-se um profundo apreço à paisagem natural, aos animais, que interagem muito proximamente com o humano, e um esforço em celebrar o espírito aguerrido do habitante dos pampas.
D) As histórias narradas por Blau Nunes dividem-se naquelas em que ele participou efetivamente, constituindo-se narrador-personagem, e em outras que ele presenciou ou ouviu falar.

Gabarito B
A (correta) O narrador de todos os contos é Blau Nunes que ora participa ativamente das histórias que conta (primeira pessoa), ora relata os acontecimentos testemunhados ou ouvidos por ele (terceira pessoa). B (incorreta) De fato, a marca do dialeto gaúcho é o mais destacado na narrativa de “Contos gauchescos”, mas não se pode dizer que está destituída da língua culta portuguesa, nem tão pouco é o primeiro exemplar de narrativa regionalista brasileira, que possui seus traçados iniciais significativos com os escritores românticos do século XIX. C (correta) Todo o espaço dos pampas, natureza, animais e homens se mesclam num harmônico cultural. D (correta) Essa alternativa encontra sua correspondência na letra “A”.

Publicado por Márcio Adriano Moraes
em 23/11/2015 às 11h21