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Márcio Moraes
no leito solidário de uma floresta altiva descansem por favor a minha poesia
Meu Diário
01/11/2015 21h27
VESTIBULAR MEDICINA FUNORTE 1/2016 - QUESTÕES DE LITERATURA

PROVA DE LITERATURA – FUNORTE
1 DE NOVEMBRO DE 2015

COMENTÁRIO DAS QUESTÕES DE LITERATURA, ENVOLVENDO A OBRA “PRIMEIRAS ESTÓRIAS”, DE GUIMARÃES ROSA

18 (Funorte) Todos os contos do livro Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, foram devidamente interpretados, EXCETO:
a)    FAMIGERADO: Narrativa de cunho metalinguístico, em primeira pessoa, que coloca em cena um “brabo sertanejo, jagunço até na escuma do bofe”. Um questionamento em torno do significado da palavra “famigerado” transforma em comédia o que poderia ter resultado em desgraça. 
b)    O ESPELHO: Este conto, estrategicamente situado no meio do livro, lança uma série de questionamentos e reflexões existenciais explorando a simbologia do espelho. O narrador, ao final, pergunta ao leitor/interlocutor: “Você chegou a existir?”
c)    OS IRMÃOS DAGOBÉ: Trata-se de uma história de ódio e vingança. Derval, Doricão e Dismundo, os irmãos Dagobé, vingam a morte do primogênito Damastor, assassinado pelo pacífico Liojorge.
d)    SEQUÊCIA: O destino e a travessia são os fios condutores desse conto. A vaquinha busca sua querência, a fazenda Pãodolhão; e o filho de Seio Rigério, que persegue o animal e encontra o amor, segunda filha do Major Quitério. 

RESPOSTA: C
COMENTÁRIO:
No conto “Os irmãos Dagobé”, há um anticlímax. A narrativa guia o leitor para uma vingança certeira, já que é esta a regra do sertão. Entretanto, o personagem Doricão surpreende a todos ao dizer a Liojorge: “Moço, o senhor vá, se recolha. Sucede que o meu saudoso irmão é que era um diabo de danado...” (ROSA, 2001, P. 78). Assim, não houve a vingança como é anunciado na alternativa, portanto INCORRETA. 

19 (Funorte) Leia os fragmentos de textos, transcritos, respectivamente, dos contos “A menina de lá” e “Partida do audaz navegante”, do livro Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa.

“Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. – “Ninguém entende muita coisa que ela fala...” – Dizia o pai com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: - “Ele xurugou?” (ROSA, 2001, p. 67). 

“Porque gostava, poetista, de importar desses sérios nomes, que lampejam longo clarão no escuro de nossa ignorância. Zito não respondia, desesperado de repente, controversioso-culposo, sonhava ir-se embora, teatral, debaixo de chuva que chuva, ele estalava numa raiva. Mas Brejeirinha tinha o dom de apreender as tenuidades: delas apropriava-se e refletia-as em si – a coisa das coisas e a pessoa das pessoas.” (ROSA, 2001, p. 168).

Marque o comentário INCORRETO, baseando-se nos excertos e nos contos como um todo. 
a)    Apenas a personagem Brejeirinha tematiza a relação da criança com o poético, já que as palavras proferidas por Nhinhinha eram pouco inteligíveis.
b)    A relação das crianças com as palavras e com a realidade que as cerca vai ao encontro do processo criativo roseano. 
c)    Enquanto Brejeirinha tinha o “dom de apreender as tenuidades”, os desejos de Nhinhinha se concretizavam. 
d)    Invenção e imaginação diferenciam as personagens-mirins das outras personagens dos contos. 

RESPOSTA: A
COMENTÁRIO:
Tanto Brejeirinha quanto Nhinhinha são personagens caracterizadas pela linguagem poética. Aliás, esta é uma das principais características de Rosa em praticamente todos os seus contos. A poesia está presente de forma intensa em sua prosa. O próprio exemplo da fala de Nhinhinha: “ele xurugou” traz uma carga simbólica, que ultrapassa o sentido estrito da palavra, mesmo por que é um vocábulo neológico. O que torna a questão INCORRETA é o uso do advérbio “apenas”. 

20 (Funorte) Considere os comentários sobre a estrutura dos contos do livro Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa. 
I.    A estrutura dos contos é fragmentada, descontínua. Mais do que a ação das personagens em um espaço determinado, importam os significados e as reflexões que se podem ler nas linhas e entrelinhas das narrativas. 
II.    Cronologicamente, os conflitos e ações acontecem em intervalos de tempo determinados, característica que anula o tempo psicológico e as reflexões de natureza existencial. 
III.    O foco narrativo oscila entre primeira e terceira pessoa. Os narradores em terceira pessoa, por sua vez, isentam-se de qualquer proximidade com o objeto narrado. 

Estão corretos os comentários: 
a)    I e III.
b)    II e III.
c)    I e II. 
d)    I, apenas. 

RESPOSTA: D
COMENTÁRIO:
O mais significativo em Rosa são as mensagens, as reflexões que o autor deixa em suas estórias. Em “Sorôco, sua mãe, sua filha”, por exemplo, o autor quer que reflitamos sobre o tema da “loucura”; em “A menina de lá”, a “santidade”; em “Fatalidade”, a “valentia”; em “A terceira margem do rio”, o “não-lugar”; entre outras reflexões. Há uma forte presença do tempo psicológico, que permite justamente a “rememoração”, bem como a sondagem existencial. No conto “Nenhum, nenhuma”, há uma estória narrada a partir da memória, fragmentada, descontínua. Em “O espelho”, a reflexão existencial é o crucial. Nas narrativas em terceira pessoa, o autor geralmente utiliza a expressão “a gente”, aproximando-se do objeto narrado. A relação do autor-narrador com seus personagens é de empatia, como se percebem em “A menina de lá”. As estórias se situam em um espaço determinado, ou seja, o sertão mineiro. Em alguns contos os nomes dos lugares aparecem explicitamente como "Temor-de-Deus" em "A menina de lá" ; e "Serro Frio" em "Um moço muito branco". 

Publicado por Márcio Adriano Moraes
em 01/11/2015 às 21h27