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Márcio Moraes
no leito solidário de uma floresta altiva descansem por favor a minha poesia
Meu Diário
12/09/2013 21h05
A COR NEGRA DA CANÇÃO DOS ANJOS

 

DA NAU À SENZALA

Uma leitura dos poemas “O navio negreiro” e “A canção do africano”, de Castro Alves

 

Por Márcio Adriano Moraes

 

No dia 7 de setembro de 1868, no anfiteatro da faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, Castro Alves declamou seu poema “O navio negreiro”, arrebatando o público e conquistando a cidade.

“O navio negreiro” é considerado um poema épico-dramático. Em seu subtítulo lemos: “Tragédia no mar”. Segundo Aristóteles, “a tragédia é a imitação de uma ação importante e completa, [...] que, suscitando a compaixão e o terror, tem por efeito obter a purgação dessas emoções” (ARISTÓTELES, 2007, p. 35). O Vate nos mostra uma  realidade terrível, o tráfico de escravos da África para o Brasil, despertando em seu leitor/ouvinte sentimentos de comiseração e revolta. Contudo, diferentemente do que ocorre numa tragédia teatral, em que atores interpretam personagens e se comunicam, dando progressão à estória, o poema de Castro Alves não é marcado por diálogos. Há apenas uma voz que nos apresenta o espaço e o tempo. Mas essa voz não possui o total conhecimento do que vê. Precisa de outros olhos que lhe ajudem a enxergar mais profundamente. Para isso, o poeta recorre aos olhos do albatroz, da ave do oceano, e também aos “olhos” da Musa, da Poesia que lhe permite o descarregar de suas emoções. Constantemente, o poeta utiliza as apóstrofes (no conceito literário) ou os vocativos (no conceito linguístico).

Assim, não é uma voz que fala só para si, mas possui o intento de atingir o outro, no caso, nós, leitores. Em sua voz, também, subtende-se a voz clamante do outro escravo. Dessa forma, o poeta é o porta-voz dos cativos. O herói desse épico não possui as láureas de louro das grandes epopeias da antiguidade. Não são semideuses com poderes fabulosos. São homens de carne e osso, mais osso que carne. Homens considerados animais, pior, coisas, mercadorias, privados de sua liberdade para se tornarem prisioneiros. São homens que perdem o seu estado de sujeito para se tornarem objetos. Apesar de seu caráter épico e dramático, não se pode esquecer de seu teor emotivo, sensível, lírico. Alfredo Bosi afirma que “O navio negreiro” “Transforma o ferro em pluma, o antilírico em lírico e o lírico em épico.” (BOSI, 2011, p. 125).

O poema é divido em seis partes. Cada uma possui um foco poético e uma construção estética específica, de acordo com a emoção que o poeta deseja transmitir. Apesar de “O navio negreiro” ser conhecido, precipuamente, pelo seu tom dramático e sensível, não se pode esquecer  que é um poema, e como tal possui toda uma construção estética. Castro Alves preocupou-se, não apenas com sua denúncia, mas também com a forma de transmitir essa denúncia. Por isso, é importante destacar o tipo de estrofe, verso, rima, intertexto, figuras de linguagem utilizados pelo poeta em seu texto. A compreensão formal do poema contribuirá para o entendimento do conteúdo.

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UMA INFÂNCIA SEM BONECA

A consciência do ser em Negrinha, de Monteiro Lobato

Por Márcio Adriano Moraes

Considerado um dos cem melhores contos brasileiros do século XX, segundo a seleção de Ítalo Moriconi, em livro publicado pela editora Objetiva em 2000, Negrinha – livro de contos de Monteiro Lobato – teve sua primeira publicação em 1920. Em sua primeira edição, havia os contos: Negrinha, Fita da vida, O drama da geada, O bugio moqueado, O jardineiro Timóteo, O colocador de pronomes.

Apesar de distante 32 anos da extinção da escravidão no Brasil, a narrativa de Lobato demonstra como a sociedade ainda trazia enraizados os costumes de maus tratos contra os negros. O país, em efervescente transformação social, custara a se acostumar com uma economia rural independente da força escrava. A indústria e a urbanização chegam para soprar novos ares nas camadas sociais brasileiras. A modernidade avança, porém o preconceito racial, principalmente, contra os negros persiste. Negrinha mostra essa herança escravista, essa desigualdade de raças, bem como de condições econômicas. A conquista da liberdade dos negros de 1888 estende-se aos seus descendentes de forma aparente, pois os senhores viam nessa igualdade uma indecência – como explícito na pessoa de Dona Inácia. Consciente dessa realidade, Lobato demonstra no seu conto tal mentalidade.

Massaud Moisés, observando os textos presentes nessa coletânea de contos, comenta que “o tema da escravidão, núcleo do conto inicial e razão do título do livro (Negrinha), além de surrado para os anos 20, leva a um desfecho entre cômico e triste, destituído de intenção ou tese.” (MOISÉS, 2004, p. 410).

A narrativa se realiza em terceira pessoa, com um narrador onisciente que lança mão dos discursos direto, indireto e indireto livre. Esse último proporciona aos leitores adentrarem no pensamento das personagens e acompanhar seus sentimentos. Neste exemplo, percebe-se isso: “Mas abriu a boca: a sinhá ria-se também... Quê? Pois não era crime brincar? Estaria tudo mudado – e findo o seu inferno – e aberto o céu?” (p. 5 25) . O pensamento da menina se funde ao discurso do narrador, configurando, dessa maneira, o discurso indireto livre.

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A COR DO SUBÚRBIO EM CLARA DOS ANJOS, DE LIMA BARRETO

Por Márcio Adriano Moraes

No Diário Íntimo, de Lima Barreto, podemos ler as primeiras referências a Clara dos Anjos, datadas de 1904. Este romance que só seria publicado após a morte do autor, na verdade, foi o seu primeiro trabalho. Escrito em forma de novela, conto e, por fim, transformou-se em um romance. Em forma de conto, teve uma publicação na coletânea Histórias e sonhos, em 1920. Em 1922, um de seus capítulos fora publicado na revista Mundo Literário. Lima Barreto seguia o costume da época de publicar capítulos em jornais (como nos folhetins românticos) para depois reuni-los e lhes dar formato de livro. É claro que houve muitas alterações até chegar ao resultado final. Fato é que o próprio Lima Barreto, em seu primeiro livro publicado, Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909), de grande teor autobiográfico, deixou esta menção àquele que seria o “filho”, gerado por toda a sua trajetória de escritor: “Cinco capítulos da minha Clara estão na gaveta; o livro há de sair...” (BARRETO, 1990, p. 219).

Saiu. Talvez não como ele esperasse que saísse, mas saiu. Não viveu para ver sua recepção, mas nos legou esta denunciante história dos subúrbios cariocas.

Dessa forma, Clara dos Anjos levou dezoito anos para ser concluído, vindo a público apenas em 1922. Seu enfoque é simples: uma 4 moça mestiça pobre, seduzida sexualmente por um branco “rico” . Eis, portanto, a denúncia do preconceito racial e social.

A obra traz a herança do realismo-naturalismo do século XIX. O meio, a raça, o momento são fatores determinantes nas ações humanas. A obra de Lima Barreto poderia ser enquadrada dentro dos Romances de Tese, pois ratifica o pensamento proposto pelo francês Hippolyte Taine de que o ambiente, a hereditariedade e o momento histórico são causas naturais que, consequentemente, determinam o comportamento humano.

A literatura de Lima Barreto recorrerá a essa teoria cientificista, evidentemente, a partir de uma história ficcional de caráter verossímil, propondo uma reflexão crítica da sociedade.

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QUADROS DO SUBÚRBIO EM CLARA DOS ANJOS, DE LIMA BARRETO: HISTÓRIA EM QUADRINHOS

Por Márcio Adriano Moraes

Ao longo do enredo de Clara dos Anjos, o leitor depara com descrições precisas do espaço suburbano. A geografia física do espaço, com suas ruas de chão e ladeiras; a arquitetura simples das casas; o rural e o urbano se comungando; o interior de casas, com seus cômodos e móveis, tudo isso é muito bem descrito por Lima Barreto em sua Clara dos Anjos. Soma-se a essa descrição do lugar, a percepção plástica das personagens, cor de pele, cabelos, olhos, rostos. Além disso, o aprofundamento psicológico, o qual revela os pensamentos das personagens, também é recurso usado pelo escritor mediante o discurso indireto-livre. Em seu livro, o escritor estampa uma imagem marginalizada, a qual deveria ser, inclusive, evitada para a época, já que o Rio de Janeiro passava por um processo de “europeização” espacial, em decorrência da Reforma Urbanística do prefeito Pereira Passos. A arte de Lima Barreto não segue a proposta de escritores burgueses para quem a literatura deveria ser “o sorriso da sociedade”. A literatura de Lima Barreto mostra “o choro da sociedade”.

Consciente da proposta do autor, o montes-clarense, Marcelo Lelis, seguindo o roteiro de Wander Antunes, procurou focar em suas ilustrações a condição racial e social apresentada no texto.

Apesar da preocupação verossímil de Lima Barreto em situar sua obra no espaço suburbano do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX, e de suas descrições, o autor não traz pormenores que são de fundamental importância para a adaptação em quadrinhos. O quadrinista, Marcelo Lelis, portanto, teve de recorrer a registros visuais históricos para buscar o espelho para sua criação. As fotografias de Augusto Malta, dessa época, foram importantes nesse processo. Contudo, Lelis teve de recorrer muito a sua imaginação para criar os ambientes, bem como os personagens.

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A TRAVESSIA FEMININA DA COR

uma leitura do filme A cor púrpura

Por Márcio Adriano Moraes

O filme A cor púrpura é uma adaptação do livro homônimo da estado-unidense Alice Walker, publicado em 1982, vencedor do Prêmio Pulitzer e do American Book Award, na categoria ficção. Com o roteiro de Menno Meyjes, Steven Spielberg dirigiu com maestria esse drama, contando no elenco com personalidades como Whoopi Goldberg (Celie), Danny Glover (Albert Johnson), Margaret Avery (Shug), Oprah Winfrey (Sofia), Akosua Busia (Nettie), Willard E. Pugh (Harpo). O filme estreou em 1985 e recebeu 11 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, melhor atriz para Whoopi Goldberg e melhor atriz coadjuvante para Margaret Avery e Oprah Winfrey. Porém, não levou nenhuma estatueta.

No entanto, Whoopi Goldberg recebeu dois prêmios: na categoria “Melhor Atriz – Drama”, pelo Golden Globe Awards, 1986; e na categoria “Melhor Atriz Principal”, pelo National Board of Review, 1986. E The Color Purple recebeu o prêmio de “Melhor Filme” também pelo National Board of Review, 1986.

Tempo e Espaço

Quanto à temporalidade, o contexto inicial da história compreende a primeira década do século XX (1909), tendo seu final praticamente na década de 1940. Um período histórico nos Estados Unidos marcado pelo Racismo, Sexismo e pela dominação senhorial de uma sociedade predominantemente patriarcal.

Ao longo do enredo do filme, as estações ganham destaque. São elas que indicam a passagem do tempo, ou seja, esclarecem ao espectador as elipses. A primeira marca temporal é o Inverno de 1909, seguindo-se Primavera de 1909, Verão de 1916, Verão de 1922, Outono de 1930, Primavera de 1936, Outono de 1937.

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Publicado por Márcio Adriano Moraes
em 12/09/2013 às 21h05

 

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