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Márcio Moraes
no leito solidário de uma floresta altiva descansem por favor a minha poesia
Textos
 
Tremor Temor
(Artigo de opinião)
 
Chegou a Montes Claros pela manhã, bem cedo. Veio junto com o marido visitar o sogro. Era o aniversário do pai de seu esposo e trouxeram o netinho para matar a saudade. Vieram de São Paulo. Tudo muito bem até o chão tremer. Aí a nora se assustou. Passado algum tempo, novo tremor. Aí ela se desesperou. Ao fim do dia, um novo abalo. Quis voltar imediatamente para São Paulo.

O susto da paulistana era justificado. Afinal, não são comuns terremotos sensitivos no Brasil. Ainda que pequenos abalos sísmicos existam, na maioria das vezes são imperceptíveis aos homens. O seu medo foi compartilhado por muitos montes-clarenses. Alguns, não tão conscientes da verdadeira dimensão do fenômeno, se amedrontam mais que outros. A razão, obviamente, está, não só no fato em si, mas nos noticiários que comumente ampliam a situação.

Nos últimos anos, fenômenos naturais de grandezas avassaladoras foram notícias em todo o mundo. Furacões, erupções, tsunamis e terremotos assustam tanto quanto as guerras. Este ano de 2014 foi um dos mais tristes para os chilenos. Um terremoto com 8,2 pontos na escala Richter é catastrófico. No Chile, houve prantos, desmoronamentos, mortes. Lamentavelmente, tiveram o fado de estarem situados entre as placas sul-americana e Nazca.

É sabido que terremotos são causados pelo movimento das placas tectônicas. Então, estando o Brasil no centro da placa sul-americana, como explicar os terremotos de Montes Claros? O professor do Instituto de Geociência da UFMG, Paulo Roberto Aranha, explica que a “capital” do Norte de Minas possui um ponto fraco, uma fragilidade no subsolo da qual se dispersa uma tensão geológica. Infelizmente, fomos surpreendidos com essa sina.
A imprensa noticiou: rebocos de casas caíram do teto, faltou energia em alguns pontos da cidade, elevadores pararam, e muitas pessoas assustadas. Apesar disso, o mineiro desconfiado não precisa se alarmar e já pensar em fazer as malas para ir embora da cidade. De acordo com o chefe do Observatório Sismológico da Unb (Universidade de Brasília), Lucas Vieira Barros, os abalos sísmicos de Montes Claros, um dos quais chegou a 3,7 pontos na escala Richter, improvavelmente atingirão a magnitude dos tremores chilenos que foram 10 mil vezes mais fortes.

O que temos de fazer é aceitar essa realidade e aprender a conviver com ela. Afinal, terremotos não são previsíveis, não marcam hora nem avisam quando vão nos assustar. Os sismógrafos que foram instalados são instrumentos que detectam as vibrações da Terra, não possuem a função de avisar ninguém de que o terremoto está chegando. Porém, é razão para que a administração do município coloque em pauta essa realidade. A defesa civil deve, sim, ficar alerta. Mapear as regiões, bairros mais fragilizados e orientar os moradores como se portar diante do acontecimento é precípuo para se evitar danos mais sérios. Arquitetos, engenheiros e construtoras, em geral, precisam-se ater a essa verdade. Não se podem negligenciar as construções de casas e edifícios, muito menos iniciar obras em lugares propensos a desmoronamentos. E cidadãos, saibam que a nossa Princesa do Norte tem momentos de estresse. Não vamos abandoná-la por isso. Somos seus filhos, muitos ingratos, nem por isso ela nos deixa de estender às mãos. Ajudemos esta nossa terra a continuar sendo a cidade que mais cresce no norte de Minas.

Depois de acalmar a nora que precisou de bons copos de água com açúcar, a festa de aniversário do sogro se principiou. Alegria por completar mais um ano de vida na cidade onde construiu sua família. E se o filho mais velho optou por morar em Sampa, foi por que a vida assim determinou. E a vida é surpreendente. Talvez seja por isso que necessitamos de tremores para lembrar que somos humanos, portanto frágeis. A natureza é nossa maior mãe e tem o direito de nos admoestar, pois precisamos, sim, de puxões de orelha. Só podemos pedir a ela, se merecedores, que ela dose um pouco a sua mão. 
Márcio Adriano Moraes
Enviado por Márcio Adriano Moraes em 13/10/2014
Alterado em 13/10/2014
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