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Márcio Moraes
no leito solidário de uma floresta altiva descansem por favor a minha poesia
Textos
Crônica publicada no jornal “O Norte”, Montes Claros-MG, dia 1 de abril de 2009.

 
Convite
 


Um convite há muito esperado. A ligação em hora inoportuna. As águas chuviscavam na cabeça, enquanto a evolução da invenção de Bell vibrava loucamente sobre a mesa. Chamada não atendida, mas se atendida o toque milenar da cobrar. Mas como é bom retornar ligações que só fazem bem. Com o retorno necessário, a voz do outro lado tenta e chama para uma partilha, para um entretenimento. De fato, era uma diversão, uma festa particular em um ambiente público. Alguém escolheria um lugar à parte para dar risos e gargalhadas, mas há quem prefira transmitir alegrias em espaços que podem ser vistos por todos.

Assim, foram preparados todos os aparatos, apetrechos, acessórios, indumentária seletiva. Aromas aspergidos sobre a pele. Cabelo ao vento, ondas marítimas remoradas nos colares de conchas, penas nas orelhas, indiano bracelete. Ao redor da mesa, crianças brincando na inocência divina dos seres humanos. Bom seria se todos quisessem apenas correr como crianças, pular em câmaras elásticas, brincar de pega-pega, e quando pegasse, enchesse de beijos. O carinho familiar, a irmandade respira nas narinas flexíveis dos fraternos. Quem olha uma criança brincar, brinca com os olhos. Quem brinca com uma criança, distancia-se dos homens e aproxima-se de Deus.

Sobre a mesa, guloseimas, massas salgadas, líquidos negros tentadores e de sabor excelso. Tudo acompanhado com os lábios sorridentes. O papo diversa a cada minuto. Os comentários fora de contexto, fora de hora, os foras, dignos de “zuações”. Não há melhor forma de descontrair que perceber as loucuras ditas e sobre elas gozar intensamente. Tudo tão natural quanto mexer o nariz ao dizer pequeninas coisinhas. E o sorriso extenso, tão extenso capaz de parar o mundo, capaz de afastar da mente os problemas, as enfermidades familiares. Felizes os que deixam a máquina desconectada por uma noite e se encontram com amigos. E ao olhar nos olhos um dos outros, perceber que a virtualidade não é virtude. O toque tímido na pele é a mais verdadeira manifestação da humanidade em sua completude. Atrás de uma tela não há ninguém. Fica esclarecido isso, não é permitido sentir o cheiro do outro nem o seu calor através de uma máquina. Que todos possam, pelo menos uma vez ao dia, permitir se abraçarem e serem abraçados ainda que com as próprias mãos.

E que corram por entre mesas, por entre brinquedos os infantes e atrás deles todos que querem também brincar, mas sentem vergonha de correrem sozinhos. Fica estabelecido também que em todas as casas em que há uma criança a lei seja: brincar! Que os estudos se transformem em diversão, transformem-se em arte. Todos os períodos da história do Brasil tenham como protagonista você que presenciou a forca do Tiradentes, participou de Canudos e jogou tomates nos desvairados da semana de arte moderna. Seja você a pilotar uma moto em movimento retilíneo uniforme. E que os átomos sejam gudes lançadas em uma biloca. O trabalho seja realizado com gosto e que o estresse seja aliviado ou totalmente afastado com cantigas.

Bela noite, uma noite digna de ser guardada na memória. São essas noites, ainda que sem luar ou estrelas, mas iluminadas por pessoas especiais, que tornam a vida vivível. Noites de humanidade. E assim sejam passadas todas as noites. E que os telefones sempre toquem e o seco alô seja substituído por um caloroso: vamos nos encontrar...
Márcio Adriano Moraes
Enviado por Márcio Adriano Moraes em 07/06/2013
Alterado em 20/12/2013
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